Intermitências
Outubro 28, 2016
Ainda não morri ando às voltas no túmulo
Viro-me para um lado, para o outro e… vazio.
Sento-me diariamente no mesmo sítio
No sítio de nada, no sítio de sempre
Onde perco a vida matando a fome
Sem sonhos infernais, nem sombras no verão
Regurgitando mal o verso compulsivo.
Nem lágrimas ao ler Camões,
Nem depressões ao ler Pessoa
Nem saudades minhas quando era um Atlas
Que sustentava meu próprio mundo íntimo;
Os meus olhos são dois velhos muito amigos
Gostam de comer gelados por irreverência
Saudosos dos tempos de nómadas leões
À caça de metáforas e versos impossíveis
Onde está o rio Tejo que daqui não o vejo?
E o eléctrico surgindo nas ruas como um cisne
E a voz do cauteleiro, sonante, de invejável
Coragem, que anuncia o corpo da fortuna
E o desmanchar de puzzles num domingo à tarde
Com meus pais por perto, tricotando o tempo
E a minha roupa suja cheia de lama,
Esverdeada camisola de seda branca
Dos blancos que um primo meu me trouxe,
Há anos que sufocam o pescoço por contá-los…
E agora isto, que é só isto, “and nothing more”