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A Guerra das Letras

Intermitências

Outubro 28, 2016

Ainda não morri ando às voltas no túmulo

Viro-me para um lado, para o outro e… vazio.

 Sento-me diariamente no mesmo sítio

No sítio de nada, no sítio de sempre

Onde perco a vida matando a fome

Sem sonhos infernais, nem sombras no verão

Regurgitando mal o verso compulsivo. 

 

Nem lágrimas ao ler Camões,

Nem depressões ao ler Pessoa

Nem saudades minhas quando era um Atlas

Que sustentava meu próprio mundo íntimo;

Os meus olhos são dois velhos muito amigos

Gostam de comer gelados por irreverência

Saudosos dos tempos de nómadas leões

À caça de metáforas e versos impossíveis 

 

Onde está o rio Tejo que daqui não o vejo?

E o eléctrico surgindo nas ruas como um cisne

E a voz do cauteleiro, sonante, de invejável

Coragem, que anuncia o corpo da fortuna

E o desmanchar de puzzles num domingo à tarde

Com meus pais por perto, tricotando o tempo

E a minha roupa suja cheia de lama,

Esverdeada camisola de seda branca

Dos blancos que um primo meu me trouxe,

Há anos que sufocam o pescoço por contá-los…

 

E agora isto, que é só isto, “and nothing more”

6 comentários

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    António Só 03.11.2016

    Que virtudes você herdou, poeta amiga. torna-se difícil comentar os seus belos sonetos. Gostava de passar um dia pelas livrarias e ver um livro seu publicado. Gostava sinceramente, que a lessem mais e vissem o seu génio pelo escreve
  • Confesso que também eu gostaria de ser mais lida e de ter livros meus nas livrarias, sobretudo porque acredito que a poesia metrificada, sobretudo o soneto em decassílabo heróico, não podem, nem devem ser esquecidos nestes tempos conturbados, mas sempre soube que isso seria uma pequena utopia...

    Abraço grato, António!
  • Imagem de perfil

    António Só 03.11.2016

    A poesia de hoje é dia é abstracta. Entendo-a, mas não a sinto. E eu só sei escrever o que sinto, muito á minha maneira, mesma que seja dum jeito antiquado ou não. A poesia para mim não é uma brincadeira de palavras, nem mentiras, nem métricas planeadas, como queiram. Dizer o que sinto é um prazer desde miúdo. "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", não é assim? Não quero escrever porque leio muito, mas porque sinto muito.
  • ... compreendo, poeta, embora muitos dos meus sonetos também remetam para abstracções... penso, no entanto, que não são abstracções ocas e sem significado e são perfeitamente compreensíveis pela maioria dos que os lêem...

    Eu também escreve sempre o que sinto. Sempre.
  • ... perdão, "escrevo" e não "escreve"...
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